segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A TRISTEZA DO FIM

Relacionamentos deveriam ter prazo de validade, um começo e uma data previamente agendada para o termino, e, após isso, continuamos a sem grandes agravantes. O rompimento é muito doloroso, muitos comparam a dor da ruptura de uma relação afetiva, com a dor da morte. Quando rompemos, enterramos naquele momento toda uma vida que estaria por vir, os momentos de amor, carinho e reciprocidade, enfim, as trocas que todo o casal tem no decorrer de uma vida a dois. Existem casos que não deveriam ter um começo, meio e fim, devia apenas existir e transcender os limites do tempo. Na verdade, gostaríamos que o "pra sempre" de fato existisse, mas nunca aprendemos que o “pra sempre” sempre acaba e que tudo é eterno enquanto dura.
Meu avô morreu antes do aniversário de 50 anos de casamento, deixou a minha avó sem amparo sentimental. Ele a ensinou a amar, a viver a dois, mas nos quase 50 anos que eles viveram juntos, ele se esqueceu de ensina-lá a viver sozinha, sem o seu cuidado, carinho e dedicação. Fiquei muito triste com a morte do meu avô, não pude ir ao velório e enterro, ele morreu no Paraná e na época não tínhamos condições financeiras favoráveis para que a família inteira viajasse, foi apenas o meu pai. Minha avó morreu um ano e um dia depois por não suportar a convivência consigo mesma, por não reaprender a viver sozinha depois que experimentou a delicia de amar e viver. Sinto saudades dos meus avôs, eles eram carinhosos e nos tratavam com uma particularidade inexplicável

No enterro da minha avó, eu fui. Isso já tem mais de 10 anos, ela morreu na porta do hospital, não houve tempo para o socorro, ela teve pressão alta e em toda a sua vida, ela nunca apresentou nenhum problema de saúde, era uma velhinha dura na queda.Prefiro dizer que ela morreu de saudades, a pressão alta foi apenas uma resposta que o corpo deu por não agüentar o um ano e um dia que ela passou sem o carinho, com a ausência do meu avô. Fiquei muito abalado quando o caixão desceu a cova, não suportei quando começaram a jogar terra naqueles sete palmos e me refugiei em outro tumulo qualquer, onde olhos alheios não pudessem me alcançar, um primo veio atrás de mim, ele não chorava, creio que suas lágrimas secaram, mas o seu olhar foi confortante, foi um olhar de cumplicidade, que compactuava com a dor que eu estava sentido. Hoje, minha avó descansa ao lado do meu avô.


Nunca estamos prontos para o termino, até mesmo quando recebemos indícios que a relação está chegando ao fim. O rompimento é muito doloroso, ainda mais quando ambos fazem parte do mesmo convívio social, os encontros passam a ser inevitáveis e até mesmo consensuais. Creio que isso ocorre quando no fundo há uma dúvida se o que foi feito é o certo e caso não for, ambos estão ali, no mesmo convívio, sobre certo “domínio”. O fim de uma relação sem intervenção natural da morte pode se chamar de “morte em vida”, pois esse fim representa a ruptura de todos os eventos que viriam a surgir e o cancelamento de todos os planos, até mesmo aqueles que fazemos/fazíamos de forma espontânea, seguindo as rotinas diárias. O fim sempre dói, ainda mais quando existe amor para recomeçar.

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